A dança para deficientes: inclusão social dançante


Os benefícios vão muito além dos físicos e mentais. A dança para deficientes é uma questão de aceitação na sociedade.


Ei pessoinhas dançantes! Hoje vim falar sobre a DANÇA PARA DEFICIENTES, um tema super interessante e que tem tudo a ver com duas coisas que acredito muito: a inclusão social e os benefícios físicos, mentais e sociais da dança!

A sugestão de pauta veio da querida Adriana Franco, professora de dança de salão na escola Arte em Movimento Danças de Salão, de Juiz de Fora. Ela desenvolve projetos de dança para deficientes e me mostrou um pouco do seu trabalho. Achei incrível e tive que vir aqui compartilhar com vocês.
dança para deficientes
Projeto Inclusão Quintal Mágico no qual a professora Adriana Franco ministra aulas de dança para deficientes. Créditos: foto divulgação.

Ao começar a pesquisar sobre o assunto e ver o trabalho dela, lembrei do Davi Marques. Um amigo, aluno, colega de escola e filho de uma das minhas professoras de dança de salão, a Silvana Marques, da Estação Cultural, também da terrinha. Por isso, a chamei para participar da matéria e falar um pouco sobre a dança para deficientes. Não só como professora, mas, principalmente, como mãe.

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Davi Marques e Silvana Marques em um dos bailes da Estação Cultural. Créditos: foto divulgação.

Pessoas com deficiência: o que é? De quais tipos de deficiências estamos falando?


De acordo com a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência – ONU (Organização das Nações Unidas) de 2006, “as pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual (mental), ou sensorial (visão e audição) os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Ou seja, são pessoas com dificuldades tanto físicas, quanto mentais e, muitas vezes, consequentemente, sociais.

Portanto, atividades que estimulem o lado físico, intelectual, sensorial e mental são excelentes. Ou seja, A DANÇA! E foi assim que a Adriana Franco resolver trabalhar com essas pessoas, pois sentia neles uma vontade grande de se expressar. “Posso ajudar eles de alguma forma e vai ser com a dança!”, pensou ela. Adriana fez o curso de Extensão de Dança para cadeirantes na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e outros particulares com deficientes professores de dança. Depois, passou a dar aula nos projetos Voluntário de Inclusão Quintal Mágico e Projeto Dança Inclusão.

Já Silvana, até o nascimento do Davi, não tinha contato nenhum com o mundo da deficiência e se viu num universo paralelo quando o ele nasceu: “a gente coloca uma cortina e tampa, e essas pessoas tornam-se invisíveis mesmo. E quando ele [Davi] nasceu, meus olhos se abriram para esse universo”, comenta ela.

Por ser dançarina e professora de dança há mais de 30 anos, imaginei que uma das primeiras atividades que ela iria inserir o Davi seria a dança, naturalmente. Mas ela contou que não foi bem assim. “Na verdade eu não pensei na dança, ele foi vendo a minha prática de vida. Eu só fui pensar em dança para o Davi quando eu já o vi dançando”, conclui.

Como são as aulas de dança para deficientes?


O envolvimento natural do Davi mostra que não necessariamente toda pessoa com deficiência tem que ter um processo específico para se aprender a dançar. Na verdade, segundo as duas professoras, cada deficiência é tratada de forma diferente, pois cada uma tem o seu limite. Eles são como qualquer aluno, independente de ter deficiência ou não, cada um tem seu grau de facilidade ou dificuldade na dança, assim como seu tempo de adaptação. E nas aulas de dança a gente sempre busca entender as limitações do aluno e tenta adequar parte do processo para ele. 

Mas é claro que muitos casos pedem metodologias específicas, como no caso dos deficientes físicos. Adriana comenta que as técnicas variam de acordo com a deficiência e o grau dela. E que o recomendado é entender a fundo a deficiência de cada aluno antes de começar o trabalho. Conversar com o fisioterapeuta, médico ou psicólogo do aluno para sabe até onde ele pode ir fisicamente e também como pode ser ajudado na parte psicológica.

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Aluno do Projeto Inclusão Quintal Mágico no qual a professora Adriana Franco ministra aulas de dança para deficientes. Créditos: foto divulgação.

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Professora Adriana Franco e seu aluno do Projeto Inclusão Quintal Mágico. Créditos: foto divulgação.
“Por exemplo, no caso cadeirantes existem os que têm lesões leves e outros que têm graves. Os cadeirantes, dependendo da lesão, se for grave, somente usam a cadeira elétrica. Trabalho o que ele consegue fazer com cuidado para não provocar lesões piores e faço ele descobrir formas de se movimentar na música e usando o que pode como braços, cabeça, etc.”, explica Adriana.

Assista ao vídeo do casal de alunos da Adriana, Rose Vieira (cadeirante) e João Batista Vieira, de aulas particulares e do trabalho de conclusão do curso de extensão na UFJF. Vejam as possibilidades da dança nesse caso.



Na minha conversa com a Silvana, ela observou algo que achei incrível. Falando dos deficientes mentais, como o caso do Davi, ela diz que sente que o corpo deles é mais livre, se expressam mais. “No sentido deles não terem muita idealização, então você trabalha com uma vibe primária. Há muita mitificação do método, ele é um só, você conhecer a pessoa e ir no limite dela”, pontua ela.

O desafio da dança para deficientes 


Se ensinar por si só já é um desafio (eu já percebi pelo pouco tempo que dou aula!), imagina trabalhar com pessoas com deficiências, com as quais é preciso ter todo um cuidado físico e psicológico?!A professora Adriana diz que, no caso da deficiência física, o principal desafio é fazer com que eles não ultrapassem seus limites e causem lesões, pois são tão determinados quando gostam da aula que podem se empolgar demais.

A coordenadora pedagógica, Elizabete Dutra, do Projeto Inclusão Quintal Mágico Juiz de Fora, associação que trabalha com adultos com deficiência e no qual a professora Adriana ministra aulas voluntárias, comenta sobre os benefícios das aulas de dança para deficientes. Segunda Elizabete, depois que os alunos começaram as aulas de dança o estresse diminuiu, a concentração ficou melhor e eles ficaram mais tranquilos. "Com toda sua experiência didática, a Adriana soube lidar com as diferenças, valorizando em cada aluno o seu potencial. A dança passou a fazer parte da vida do aluno, trazendo alegria e bem estar. Fazendo eles se sentirem livres e conhecerem o próprio corpo", comenta a pedagoga.

Assista ao vídeo das aulas no Projeto:



Já Silvana comenta que sempre acreditou que o caminho do Davi seria em qualquer atividade física e sempre trabalhou com vários tipos na vida dele. Na dança, ela diz que o Davi é muito criativo e que a cada aula é importante para ele. Como exemplo, ela comenta que as aulas que ele tem feito no Pé Descalço Juiz de Fora estão sendo fundamentais para dar disciplina a ele.

A importância da dança na vida dessas pessoas


A dança para deficientes é tão encantadora quanto para nós. Mas acredito que para eles tem um peso maior de superar limites que talvez fossem improváveis a outros olhos. Não só o limite físico, mas também o social.

Eu conheci o Davi no meio da dança e não teve um dia que não o vi sorrindo dentro da escola ou nos bailes. Nos últimos tempos, nas aulas do Pé Descalço, o Davi se tornou parte de nós, sempre compartilhando a mesma energia. Ele está junto conosco em todos os treinos e com a mesma vontade de passar no exame, com o mesmo gás e animação. Não preciso nem dizer o quanto a dança com certeza é essencial na vida dele.

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Dani comemorando sua aprovação no exame da escola Pé Descalço Juiz de Fora. Créditos: Nos Passos da Dança.


Adriana comenta que os benefícios da dança para deficientes são muitos, gradativos e visíveis tanto para o aluno, quanto para a família. Pois além de uma atividade física, também é uma forma de inclusão na sociedade, fazendo as pessoas entenderem que todos tem direito à dança.

As duas professoras destacam e corroboram o que eu observei, a dança ajuda na inclusão social. “A dança na vida do Davi é um local de muita autoconfiança e respeito. Na dança ele conseguiu se inteirar de forma muito positiva. A dança significou essa aceitação social além da sala de aula”, expõe Silvana.

E assim como Silvana mesmo me ensinou e relembrou na nossa conversa: a dança é uma forma de expressão e de comunicação poderosíssima. Ter consciência e dominar seu próprio corpo, tenha ele deficiência ou não, é sensacional. Por isso, a conclusão disso tudo é que DANÇAR NÃO TEM LIMITES E É, REALMENTE, PARA TODOS!

Davi Marques com todo sua doçura posando para as lentes do Nos Passos da Dança.


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